segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Realidades

Podemos fazer um contraponto entre nossa vida e o relato de “O Mito da Caverna” de Platão, afinal cada um tem uma maneira particular de encarar a “realidade” na qual vive.
Até determinado momento em nossas vidas, somos como os prisioneiros da caverna que acreditam que as sombras das pessoas de fora, assim como os sons de suas falas são as próprias coisas externas. Isso porque nunca souberam que existe um mundo do lado de fora da caverna.
Outros são como o prisioneiro que, inconformado com a situação em que se encontrava, resolveu sair da caverna. No primeiro contato com o mundo real fica extasiado, mas também atordoado: por um momento não sabe se acredita que essa luz que acaba de conhecer é real, já que seus olhos, que estavam acostumados com a escuridão, por algum momento ficam ofuscados com a clareza do dia. Mas logo quando seus olhos se acostumam com a luz, reconhece o quanto o mundo real é mais amplo, mais rico e percebe o quanto vivia em um mundo extremamente restrito dentro da caverna: descobre que o interior da caverna não era a realidade, de fato.
          Algumas pessoas são como esse ex-prisioneiro que, ao descobrir o quanto o mundo fora da caverna é mais rico, lembra dos outros prisioneiros dentro da caverna e decide voltar até lá para falar-lhes desse mundo que acabara de descobrir. Essas pessoas não desistem fácil quanto a convencer os “aprisionados” de que existe outra realidade muito mais interessante do que a que estes conhecem.    
Existem ainda as pessoas que são conformadas com a maneira como os fatos se apresentam: são como os que caçoaram e zombaram do ex-prisioneiro, pois não queriam acreditar que o interior da caverna não era a realidade. Essas pessoas encaram a vida, em seus diversos aspectos, como algo do destino, não passível de mudanças: acreditam em uma realidade que lhes é apresentada como sendo assim e pronto.
Mas outras pessoas são, quiçá, como alguns dos prisioneiros que, ao ouvirem o recado do companheiro agora liberto, resolvem mesmo a contragosto de alguns, sair da caverna e conhecer o mundo exterior.



sábado, 20 de agosto de 2011

Línguas

É notório o quanto a ciência se encontra extremamente avançada nos dias atuais. Claro que isso tem beneficiado a humanidade nas mais diversas áreas as quais possamos imaginar: na saúde possibilitando maiores possibilidades de cura; no transporte tornando as distâncias menores através de aviões, carros; o telefone, e assim vai.
 Quanto à informação, tem-se a internet extremamente popularizada e acessível a todos: na área científica, pode-se encontrar muitos trabalhos de pesquisa disponíveis a quem quiser ver, livros disponíveis para download etc. Enfim, são inacabáveis os benefícios que a rede mundial de computadores oferece às pessoas. Mas, a questão é que nem sempre, toda essa facilidade no acesso à informação é usada da maneira mais inteligente possível: talvez muita gente não esteja sabendo o que fazer com tanta informação (essa que alguns confundem com conhecimento). Aqui refiro-me, principalmente, aos quase que intermináveis sites de relacionamento disponíveis: Facebook, Orkut, Youtube, Twitter, MySpace, somente para citar alguns (os que mais se tornaram populares aqui no Brasil).
Principalmente os jovens, nem sempre estão sabendo fazer uso da internet da maneira mais inteligente e útil possível e acabam utilizando-a de maneira a prejudicar eles mesmos. Principalmente a linguagem. São diversos os problemas que se pode ver da relação do jovem com a internet: Trabalhos escolares são copiados da internet prontos, sem o menor constrangimento; a linguagem fragmentada que se cria para fins de comunicação nos sites de relacionamento, o chamado “internetês”; as horas intermináveis passadas na frente de um computador etc.
Ao imprimir um trabalho pronto da internet (e normalmente nem se lê o que ali está escrito) o jovem deixou de abrir livros, de pesquisar, de ponderar, tomar decisões, pensar que direção vai dar para determinado texto e assunto, por as idéias no papel, apagar, construir de novo até, finalmente, ter um texto resultado de sua reflexão, de seu trabalho, algo genuíno.
Ao alongar-se horas e horas em um site de relacionamento somente tratando de futilidades e utilizando-se de um sistema de linguagem extremamente informal, fragmentado, sem nenhum tipo de elaboração, alguém pode acabar por perder a capacidade de se comunicar de maneira clara e precisão de pensamento. Pode-se utilizar o coloquialismo, que é uma das opções lingüísticas que temos dentro de nossa própria língua, afinal não somos formais todo o tempo; a discussão aqui é que quando se fica somente no coloquialismo, perde-se o contato com os “tradicionais textos clássicos”, como diz Bechara em seu livro Ensino da Gramática. Opressão? Liberdade?. Então o contato com a norma culta da língua é importante.
Temos que ter a capacidade de utilizar a língua de acordo com o contexto no qual estejamos inseridos e, portanto, dominar também a norma mais culta da língua. O jovem deve saber que alem do “internetês”, ele tem outras modalidades da língua que terão importância em outras situações, em sua vida. Em qualquer situação mais formal da vida, a linguagem mais culta será necessária: para citar um exemplo, numa entrevista a maneira de se comunicar será fatal para que se obtenha ou não um emprego.
Quem não consegue falar ou escrever corretamente (e aqui estou me referindo à norma culta da língua) certamente não está acostumado a treinar a capacidade de elaborar pensamentos, criar e organizar idéias. As pessoas devem procurar exercitar e entender a importância de ter suas leituras pois o livro é importante para que se assimile as características de uma língua; e ainda, o livro irá mostrar o quanto o mundo pode ser muito maior e mais rico do que aquele que se conhece através dos olhos de alguém que apresenta este mundo de um modo pronto, terminado, e não dando chances para a criação de algo.




quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Músico de carteirinha

A decisão do Supremo Tribunal Federal, no dia 1 de agosto de 2011, de desobrigar o músico quanto ao uso da carteirinha da OMB (Ordem dos Músicos do Brasil) me faz ponderar a profissão do artista músico.
Deve-se tomar cuidado com as palavras da ministra Ellen Grace, que disse “A música é uma arte, algo sublime, próximo da divindade. Tem-se talento para a música, ou não se tem”.
Faço menção ao preparo que o músico deveria ter para que seja um verdadeiro artista: alguém que cria, que pensa, que procura fazer algo novo, que nunca se acomoda com a mesmice, com a monotonia.
 O musicista deve preocupar-se para que essa atividade por ele escolhida não se torne somente uma prática rotineira, mecânica, sem inovações e arrojo artístico.
Sabemos que existem pessoas que tem alguma habilidade incomum com um instrumento musical ou com a voz. Mas é necessário muito cuidado para lidar com o demasiado talento. Este não é tudo.
 O ideal seria priorizar um preparo técnico, consciente, pensado, que é o que vai realçar e ampliar o talento e a facilidade que o artista já tem. E quando digo preparo técnico, não estou me referindo somente aos intermináveis métodos de escalas e exercícios, além do repertório do instrumento e a passagem por uma academia (ensino superior). O músico deve procurar ampliar o seu mundo relacionando seu universo com as outras expressões artísticas e outros mundos (por exemplo, cinema, teatro, dança, pintura etc) sabendo que a música não é isolada e fechada em si mesma.  Outros conhecimentos certamente darão ao musicista mais elementos para que ele possa fazer sua música da maneira mais aprimorada possível. E, feito tudo isso, certamente estaremos mais capazes para criar, como disse a ministra, “algo sublime”, e sem precisar de uma carteirinha para provar que somos, de fato, músicos.